Com os pés doendo, mas com a sensação de companheirismo ainda mais intensa em mim, começamos nosso segundo dia do MNM às 7h, pós cafe, indo para o morro do Querosene (Butantã) de metro. No caminho, o grupo se dividiu sem querer. Acredito que os minutos decorrentes foram os mais tensos da viagem. Estávamos debaixo da terra sem sinal, e separados. Mas, um grupo tinha entrado no metro sem o João ver, e o único ocorrido foi a chegada em horários diferentes no destino.
Lá fomos recebidos por Tião que nos contou sua trajetória de vida, e também a do bairro. Conseguimos aplicar os termos que aprendemos nas aulas de geografia, para ver as mudanças no bairro, e ainda, conversar com alguém que acompanhou de perto esse percurso. Depois disso ele nos apresentou a uma festa que ocorre tradicionalmente na região: Bumba meu Boi. Vimos o próximo boi do evento, fantasias, acessórios, instrumentos, e tivemos a oportunidade de escutar um pouco do que se toca no festival. No final, até conseguimos tocar nos mesmos os instrumentos tradicionais que eles utilizam.
Saindo de lá, fomos a pé para a USP, mais especificamente o CRUSP, residência estudantil da USP. Um estudante de mestrado nos recebeu e nos explicou a residência e a visão que se tem dela. Foi muito interessante descobrir esse outro lado da universidade que ninguém fala, porém diferentemente de todo o resto do MNM, achei a visita muito expositiva e não pratica (ouvimos muito a respeito do que o estudante achava da USP em geral, mas, não conseguimos ver de fato sobre o que estava falando). Mesmo assim, foi uma visita muito importante para desconstruir a visão idealizada que tinha da universidade que pretendo estudar.
De lá fomos almoçar em pinheiros, Fito, uma recomendação da Teresa. Tivemos que comer rápido pois tínhamos duas atividades para realizar em um espaço muito curto de tempo. Fomos então, para um centro de acolhimento de mulheres trans, próximo à estação tiradentes. Quando chegamos, as meninas estavam realizando uma oficina de mandala com a TV alesp, que nos convidou a participar. Algumas perguntas foram feitas, e após as gravações, começamos a conversar com as mulheres e com a assistente social. Foi literalmente um espaço muito importante pois conseguimos conversar com pessoas de histórias completamente diferente da nossa, que na maioria das vezes, o abuso e abandono eram recorrentes, mas sem perder o carisma e o humor. A conversa lá estava tão intensa e interessante que o Joao, decidiu cancelar o nosso outro evento. Foi um espaço muito importante no qual todos os alunos se abriram para ouvir o que nos tinham a dizer.
Voltamos para o hotel, e no caminho, o João propôs uma atividade relacionado com o livro que lemos na escola (ensaio sobre a cegueira). Então, lá estava eu, no centro de São Paulo, vendado, sendo guiado por uma amiga que tentava fazer o papel da mulher do médico (do livro). Uma experiência incrível, porém agoniante. Realmente a visão é algo que não consigo deixar de ter, eh horrível tentar perceber tudo que está em seu entorno sem poder utilizar os olhos. Uma sensação de vulnerabilidade muito grande para mim.
Jantamos, tomamos banho e saímos para a última noite juntos. O sarau de fato aproximou ainda mais todos nós. Descobrimos talentos que não imaginávamos que o colega que sentava do nosso lado na sala tinha. As pessoa são de fato muito imprevisíveis, e quando você acha que começou a conhecer alguém, ela te surpreende novamente, rompendo com tudo aquilo que achávamos que sabíamos dos outros, e o mesmo vale para a nossa cidade. Achávamos que conhecíamos muito sobre ela, e de fato, ainda mesmo depois desta viagem, não estamos nem perto de conhecer.
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